Este é o tipo de paixão

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Que me faz ouvir centenas de vezes seguidas a mesma música, num eterno e forte círculo de energias mútuas, a que dou e a que recebo... Sento-me numa pedra e fico a ouvir os barulhos em minha volta. Por quem me tomas, Por quem sou, Por quem és, Por quem existes. Existes? Eu existo. Digo-to com indignação, se ao menos a minha boca to dissesse. Toda eu seria flores e os frutos que se apanham quando o espírito é ou está nú e a alma estremece em arrepios. Seria, se a minha boca to dissesse. Que posso eu esperar que esperes de mim? Nada, nada que possa vir devolvido. Uma vez tudo é cortado pela raíz. E eu fico na crença de que já morremos ambos, antes de vivermos, ou então apenas eu morri, não quero cometer o erro de dizer-te eu quando podes nunca o ter sido nem eu ter sido tu. Silêncio. A chuva podia cair-me na face e eu ser apenas um sonho teu e tu um meu; antes mesmo de existires, esperei sossegada a tua chegada, e procurei em todo o lado a tua marca. Achas que não? Como se explica aquilo que nunca é explicável nem matemático mas puramente abstracto, puro negro, disforme, quente, profundo? Cheguei até ti. Eu sei isso. Mas como posso saber se algo meu aí ficou? Sinto-me com dúvidas. A carne doente é fraca, é sobre mim que os olhos na escuridão caem, é a mim que espiam. É de mim que duvidam. Tudo isto é um teste de paciência para o qual eu deveria estar preparada: Não estou, nem de perto, nem de longe, nem sei se a minha efeverscência alguma vez se dissipirá. É acerca disso que é tudo isto: as tuas dúvidas e as deles também. Uma vez que me sujeito, jamais deveria poder recuar. Mas eu não sou do tipo de sujeitar a lealdade à injustiça. E eles sabem disso. Mas eu sou amiga de ambos, e leal a quem me é leal. Não sou leal a quem me é desleal. E eu tenho os meus sistemas, os meus endevors fatídicos e metódicos e caóticos, que me fazem ser escrava da liberdade, da minha e dos outros, das minhas hormonas e de um conjunto esquizofrénico de outras inexplicáveis coisas que se traduzem naquilo que partilho com uns e com mais nenhuns. Raiva, amor, ódio. Sabes? Não tenho paciência para vampire shit and death guy stuff. Eu estou viva. Eu respiro, eu como, eu cago, eu peido, eu sinto, eu enervo-me, eu amo, eu preocupo-me, eu choro. E estou viva há já muito tempo e não me arrependo. Posso ter tido sempre motivos para estar viva? Mentira. Até os mortos andantes choram. A mim, esse argumento não me engana. Mas sem saber calo-me, até porque aprendo mais com o silêncio do que com o desgaste patético de palavras. E patéticamente sento-me, a amar-te cada dia menos, por ser viva, e impaciente, e no fundo, uma pequena personagem lasciva de algum romance de péssima categoria.

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