Crítica a Snapshots

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AVISO: ESTA PEÇA MERECE SER VISTA
No ínicio odiei. Odiei ao ponto de me sentir quase ofendida. O humor parecia básico, baseado numa visão simples e ingénua do mundo e da complexidade do mesmo. A ideologia, bem patente de esquerda. A interpretação dos actores, dependendo do papel de cada um, mediana, quando não medíocre, baseada igualmente numa visão ingenuamente dualista do mundo. Desadequada. Uma visão "provinciana" dos provincianos, de alguém que claramente não tinha consciência nem conhecimento do tipo de generalização que estava a fazer. Passou-me pela cabeça ir embora.Basicamente, toda aquela atitude estava na moda nos anos 70. Agora não passa de um anacronismo inestético. Não se trata de incompreensão dos clássicos, o dramaturgo deixou bem claro que dominava intelectualmente os clássicos.Que os interpretava divinamente. Dir-se-ia uma espécie de relação de amor e ódio...?! No entanto, reconheci intuitivamente a originalidade e o bom gosto estético e musical, e a minha vozinha interior sibiliva-me para que ficasse. As interpretações dos actores também melhoravam de minuto para minuto, roçando a excelência, o domínio, o fantástico. Fiquei. A peça foi ficando cada vez melhor. A linguagem utilizada era excelente: de um nível literário reproduzido brilhantemente. A conjunção da imagem com a música com a interpretação dos actores era genial, carregada de emoções, abstracta, viva. Capaz de arrancar lágrimas. Arranha-nos as entranhas de certa forma, como qualquer boa peça que se ergue como um todo individualizado face ao grande vazio negro que está além da existência; espanta-nos e confunde-nos (já que existem partes que de tão interactivas, parecem improvisadas), maravilha-nos, diverte-nos (o episódio do indiferente arranca a gargalhada até ao "indiferente"). Termina com o melhor final possível, fiel a si mesma, complexa, introspectiva. Expondo os conflitos reais e introspectivos do indíviduo que cria. É um final óptimo.

Portanto, se gostei ou não da peça, não sei responder. Suponho que sim, já que não me arrependi de ter ido, e senti-me ligada, de alguma forma, a todas as pessoas envolvidas na montagem da peça.No entanto, gostava de deixar umas "alegações finais" a esta pseudo crítica.

Alegações finais: O radical é aquele que mais próximo está da raiz; é aquele que não se atreve mentalmente no mundo real por ser demasiado apegado ao mundo conhecido. Talvez por ter tido os melhores mestres, deteste aquela visão bipolarizada, muito mal disfarçada, que nos induz no erro intelectual de que para procurar um estilo de vida puramente dionísiaco e naturalmente artístico, temos que ser adeptos de determinadas palavras de ordem como "Liberdade", "Direitos", "Luta contra a opressão", "O poder do povo", "O povo", "As minorias", "Os que não conseguem", etc...Meus caros, uma organização apolínea, organizada e restrita da pólis, não só é possível, como é necessária para a existência dessa visão artística naturalista. É o domínio de apolo que concede aos raros momentos dionísiacos o valor e a intensidade que estes merecem. E não a desvalorização, ou como gosto de lhe chamar "O sangue de Baco"-
O vazio impreenchível dado pela repetição contínua e reprodução em todas as esferas da vida comum da atitude espiritual natural...
Mas que estas alegações não sejam, no entanto, utilizadas por intelectuais de direita para colmatar as suas faltas de aptidões dionísacas, convenhamos...

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