Interrupção Voluntária da Gravidez em Portugal

| |
Geralmente não gosto de me envolver em escandalos politicos. Mas a verdade é que em breve me vou envolver num muito muito sério. E vou porque já estou envolvida. Fui envolvida, não me envolvi. Nunca me senti fragilizada nas alturas em que me devia sentir. E agora sinto cada vez mais vontade de lutar e de contar a minha história, para que outros possam aprender algo com ela. A revolta é demasiada para conseguir cruzar os braços. Eu sei que as pessoas têm bom senso quando se trata da saúde de cada um, de assegurar o bem estar do próprio indíviduo. É ao nosso instinto básico de sobrevivência que vou apelar, e a nada mais. Não são opiniões subjectivas. Quero esclarecer desde já que sou absolutamente contra a interrupção voluntária da gravidez. Ou seja, não acho que por caprichos sociais ou pressões laborais ou familiares qualquer mulher deva abortar. O termo "falta de condições" não é compreendido por mim. Talvez porque tenha crescido numa família monoparental, e não possa gabar-me da existência de condições desde que lembro, mas consigo detectar no percurso da minha família as vitórias, as conquistas de cada condição que se adquiria. Um trabalho fixo, uma casa, a carta, um carro. As condições conquistam-se. Os dois progenitores quererem o filho também não é uma condição prévia. Um dos meus progenitores nunca tomou um papel activo na minha educação e não foi por isso que me tornei uma pessoa mais disfuncional que a maioria. E conheci demasiados exemplos de pessoas cujos progenitores só prejudicaram mais a formação das crias do que ajudaram. Que se deveriam ter afastado. Muita gente nasce e muita gente não tem as condições ideiais para nascer, toda a gente limita a vida dos progenitores, mas transforma-a, muda-a para sempre, os progenitores não deixam de ser quem são, não passam a viver numa casa própria com carro e casados, apenas se tornam progenitores, se é que apenas se pode dizer. E as crianças crescem, e tornam-se pessoas específicas, com traumas e motivos de felicidade, como todas as pessoas desde que existe humanidade. Não é por aí que devemos ser mesquinhos e caprichosos em relação a quem damos vida. Os motivos que deveriam motivar uma interrupção voluntária da gravidez deveriam ser muito mais sérios. E deveria residir em cada mulher essa noção de seriedade. Uma forma muito simples de consciencializar as pessoas, era meramente responsabilizá-las, através da simples pergunta: "PORQUÊ?"

Em lado nenhum há essa preocupação. Mas deveria haver. Mas eu passo a explicar porque não há. Porque este país é mantido por uma cambada de idiotas e governado por uma série de hipócritas e corruptos. Ou seja: enquanto quase toda a totalidade dos hospitais estão condicionados por faltas de pessoal, por objectores de consciência, e por mera má vontade, quase a totalidade das mulheres que recorrem à IVG são encaminhadas para a mesma clínica. E nessa clínica, tudo não passa de uma linha de montagem, ou desmontagem. Há várias ilegalidades envolvidas e eu ainda estou a estudar cada uma delas para que o meu ataque burocrático de surpresa não faça prisioneiros nem feridos e que a blietzkrieg triunfe. O lucro é tudo o que se espera ser alcançado, e as pessoas não são pessoas, são números, números que deslizam nos papeis, uns a seguir aos outros, e no fim dão inúmeros dividendos. E o que acontece é que esses números se multiplicam, porque se eu sou um número eu sou anónima, e se sou anónima sou inconsciente, sou objectora de inconsciência, e assim posso fazer o que quiser. E agora falam em voltar a discutir a IVG como lei e a última coisa que quero é tomar partidos de alguém ou atirar achas para essa lareira. Eu acho que a lei foi a referendo duas vezes, e obteu a maioria no segundo referendo, é uma vontade generalizada da população portuguesa e não faz qualquer sentido negar esse referendo e voltar a penalizar a IVG. Mas a pergunta pertinente que eu coloco a todos os portugueses e portuguesas que votaram nesse referendo, (sim ou não, pouco importa) é:

CONHECEM AS CONDIÇÕES EM QUE SE REALIZA UMA INTERVENÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ ACTUALMENTE EM PORTUGAL?

...e é este o meu desafio. Em breve providenciarei respostas. A minha história precisa de ser ouvida. Por quem cria os limites, por quem os ultrapassa, e por todos os infelizes que nadam caoticamente entre essas entidades.

3 comments:

Anonymous said...

JÁ DEVIAS TER CONTADO A TUA HISTORIA, É NECESSÁRIO SABER ALGUMAS VERDADES SOBRE ESSE ASSUNTO.
Não podemos viver na ignorância

Cristina O.

Anonymous said...

Nem todas as histórias correm na mesma situação...

"Uma mulher descobriu que estava grávida e ponderou o aborto porque já tinha um filho, ao ser analisada pelo medico ele diz.- "faz assim, mata o seu filho que tem dois anos e deixa esse nascer"
agora ela tem dois filhos

flor said...

Com o devido respeito, anónimo que não assinou a mensagem, vá pa puta que o pariu...Porque o seu comentário não tem nada a ver com o meu post e você é um idiota chapado merdoso, que provavelmente, para infelicidade deste país, vota. Fique a saber que me deu um prazer inesgotável insultá-lo publicamente. E que a deusa tenha pena de si, porque eu não tenho.

Post a Comment