Contos antigos: A CHAVE PERFEITA

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No início dos tempos, o Criador criou o mundo, e nesse mundo, criou um feiticeiro. Ao feiticeiro deu-lhe o dom da magia, mas ao mesmo tempo, para o controlar, lançou-lhe uma maldição, que só se poderia quebrar se o feiticeiro encontrasse a chave para o seu coração na alma duma princesa.
E assim, o feiticeiro vivia num castelo frio, escuro e solitário, no meio de um vasto campo verde, perdido no reino dos sonhos.
E na parte mais escura, sombria e escondida do castelo havia uma sala, com uma porta de ferro, com uma enorme fechadura. A chave para essa porta, o feiticeiro levava-a com melancolia ao peito, dia e noite. Dentro dessa sala, e para lá da porta de ferro, estava um baú, com uma fechadura. Dentro desse baú, selado com a maldição do feiticeiro, estava o seu próprio coração, que, se fosse devolvido ao feiticeiro, o tornaria livre.
Durante o dia o feiticeiro observava o mundo e as pessoas através da sua bola de Cristal,via as pessoas vivendo a sua vida normal, fazendo escolhas, opções livres. E ele desejava mais que tudo poder faze-lo ele proprio, ser livre, ter vontade propria. Libertar-se do Criador.
Mas durante a noite transformava-se, os olhos ficavam como baços e ele saía do seu castelo tenebroso e longiquo, e fazia o que o Criador lhe mandava. Matava, se fosse preciso, roubava, fazia o que o Criador lhe ordenava. Partia numa encruzilhada, na sua missão.
E no dia seguinte acordava, na sua cama ou em realidades que lhe eram estranhas, e voltava ao palacio, onde observava as pessoas, sózinho e triste por não se conseguir libertar.
E chorava, o feiticeiro. Desejava profundamente ter liberdade como as outras pessoas, encontrar a princesa.
E numa certa era, ele começou a procurar, no meio das comuns mortais, raparigas, que possuissem uma beleza de alma acima dos outros mortais.
E uma era, cruzou-se com uma rapariga com uma chave ao pescoço. Logo se apercebeu da forma de quebrar a maldição, e continou, todos os dias, a tentar quebra-la. Essa rapariga era bela, tinha muitos traços de beleza, e ele, excitado na possiblidade de quebrar a maldição e ser por fim livre, arrancou-lhe a chave que ela tinha pendente, num fio, ao pescoço.
Apressadamente, correu para a sala sombria, tirou a sua chave do pescoço, abriu a porta de ferro e sentou-se em frente ao baú, preparando-se para o abrir.
Ao colocar a chave no trinco, apercebe-se de que a chave não cabia. Era demasiado pequena.
Furioso, confuso e decepcionado, pegou na rapariga e matou-a, de fúria.
Passadas algumas eras voltou a encontrar uma rapariga que carregava ao pescoço uma chave. Convenceu-a a ir para o seu palácio, e pediu-lhe a chave delicadamente. De novo repetiu o mesmo gesto, mas a chave não cabia. Era demasiado longa.
Desiludido, enviou a rapariga para a sua realidade sem uma palavra.
Passado algum tempo depois, partiu em busca da princesa. De novo encontrou uma jovem extremamente bela, com uma chave que aparentava o tamanho ideal, perfeita. Contente, levou-a para o seu castelo, e decidido a gozar da companhia da jovem desta vez.
A jovem começou a viver com ele, e ele acabou por se apaixonar. Com medo de que a chave não caber no trinco e de ter de enviar a jovem para a realidade dela, atrasou o tempo que pode ir exprimentar a chave no cofre.
Mas a jovem não pertencia á SUA realidade, e todos os dias lhe pedia para partir. Desgostoso, o feiticeiro foi-se rendendo á vontade da jovem até que um dia se decidiu e abriu a porta de ferro, debruçou-se sobre o baú e exprimentou abri-lo.
Ao ver que a chave encaixava no trinco, ficou entusiasmado. Mas o entusiasmo rapidamente se desvaneceu, pois ao tentar rodar a chave esta nao se moveu. Era demasiado curta.
Desolado, louco, triste, o feiticeiro fechou-se no seu próprio mundo. A jovem voltou para a sua realidade, como queria.
Frio e insensivel, o feiticeiro fez uma pausa na sua busca pela chave perfeita.
Decidiu misturar-se com os mortais, esconder a sua magia durante o dia, e ausentou-se do seu castelo, partindo para o mundo dos humanos.
Conseguiu encontrar novas raparigas, encontrou uma, mas ela era gananciosa e apenas queria a magia do feiticeiro. Aliciou-a, prometeu-lhe a magia e trouxe-a para o castelo.
Mas ao exprimenta-la, de novo a chave não serviu - era demasiado grande.
Enviou a rapariga de volta á sua realidade, dando-lhe antes um talismã e uma quantia em dinheiro, mas sentiu-se enojado.
Um dia surgiu-lhe uma rapariga, perdida. Logo ela adormeceu de cansaço e assim que o fez, ele ambiciando a chave que a rapariga carregava ao peito, matou-a durante o sono. Mas mais uma vez, oh triste fado, a chave não coube - era demasiado leve.
Convencido de que nunca acharia a chave, desistiu, e fechou-se no seu castelo, triste.
De chave apenas tinha a sua, que carregava ao pescoço. Um dia surgiu uma rapariga á porta do seu castelo, perdida e assustada. Era algo bonita, mas não o fascinava, e como ela não sabia para onde ir, fi-se instalando no castelo.
Um dia, ela confessou-lhe que tambem tinha uma chave, mas nunca a colocava ao pescoço.
Nesta altura, levado pelo medo, o Criador confundiu-o, enganou-o, e levou-o a crer que amava a rapariga que ali estava a viver com ele, sem saber aonde ir.
Nessa altura, á porta do castelo surgiu uma princesa, decidida, dizendo-lhe que a chave que ele procurava tinha-a ela ao pescoço, e só ela, pois era ela quem o iria libertar. E ela carregava a chave, e todas as noites em que o feiticeiro partia em missão, ela sonhava com ele e em dar-lhe a chave, na liberdade que tinha de lhe dar.
E essa chave, ela tinha-a ao peito desde que tinha nascido, tinha-lhe sido dada pela mãe, e á mãe pela avó, desde a propria Eva.O feiticeiro, confuso, acolheu-a no seu castelo, porém, manteve a outra tambem no castelo.
A princesa lentamente foi revelando a verdadeira paixão que nutria pelo feiticeiro, e foi tomando o seu leito.
Triste, uma noite o Criador ordenou-lhe que enviasse a princesa para fora do castelo e tomasse a chave da outra rapariga como sua.
Ordenou-lhe que enviasse a princesa fora e exprimentasse a chave da rapariga, que não servia. Porém, o Criador apagar-lhe-ia a memoria e fa-lo-ia acreditar que tinha servido e que ele estava liberto, e deu-lhe uma noite para o fazer.
A princesa acordou, durante a noite, tinha ouvido cada palavra nos seus sonhos. Desesperada, esperou pelo dia. Fez o feiticeiro adormecer e assim que ele adormeceu, roubou-lhe a chave que ele trazia ao pescoço.
Abriu a porta de ferro com a chave do feiticeiro, debruçou-se sobre o baú, tirou a sua chave do pescoço e abriu-o.
E agarrou no coração do feiticeiro, e prontificou-se a lho devolver, enquanto este dormia. Este acordou de imediato e liberto, viu a realidade como ela era de facto. E logo viu a princesa, que o olhava com um sorriso, contente por lhe devolver a liberdade, com um vestido branco puro.
Da maldição das sete chaves apenas sobrou uma, pequena, que a princesa carregava ao pescoço, todos os dias. Todos os dias que viveu com o feiticeiro.
E o castelo tenebroso transformou-se numa pequena casa de madeira, no ondo campo verde. E a outra rapariga foi enviada á sua realidade sem qualquer memoria do que se passou.
E tiveram filhos, o feiticeiro e a princesa, doces gritos de alegria no meio das flores lilazes no campo verde. E a magia tornou-se eterna, e o Criador descansou...

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