"Poesias Caóticas"

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V - (Im)Perfeição: Valete de Copas

Naquele dia o que vi quase me atirou ao chão. Fiquei impassível, perdida, sem saber o que pensar. Se tivesse esse luxo, chorava. Deitei as cartas com a impaciência de uma criança, queria respostas, queria todas as respostas, relativamente ao que vi, as tuas também, queria arrancar-Tas, roubar-Tas. Saber se era verdade o que vi.
O coração batia depressa perante a cadeia de acontecimentos que se desenrolava em frente a mim. E tu não sabias, nem podias saber. Como te diria eu? "Não estás no meu futuro"? "Não quero soar doente mas estou a por o livre arbítrio entre parênteses"?! "Há uma criança"? O facto de não te poder dizer fez-me ficar doente. As cartas responderam-me sempre que não, o valete de copas dobrou-se ao meio, dividido, farto de sair, sempre a mesma carta, sempre Tu?! Ou o que sentias. Todos os sinais que tinha. Nada ficaria. Só o tudo numa caixinha. Mas um tudo pequeno. Quase inútil... Frágil.
Tentei fazer perguntas, procurei ajuda, como procuro sempre. Mas ninguém me levou a sério. Sou apenas uma louca, cada vez mais louca. "Louca, estás louca." Sabes? Não sou capaz de ler essa palavra. Leio "bruxa" onde está escrito "louca". bruxa bruxa bruxa bruxa bruxa bruxa. É o que leio.
E as pedras rolaram no rio, o ritual fez efeito, porque eu sou cíclica o que vai, volta, e refugio-me nessa certeza, como me desabriguei da certeza da dor, no momento passado que é o presente e o futuro, que está avariado na minha cabeça. A água levou no rio o meu passado, o meu presente e o meu futuro. O que morreu e o que vai nascer.
No outro dia, bom augúrio talvez, ou as minhas últimas esperanças, sonhei que as sementes que plantei naquele ritual cresceram a um nível quase plástico, as flores brancas brotavam da terra com a força de árvores, a terra fértil tinha-lhes dado tudo o que podia dar, e mais um pouco ainda, e o sol brilhava intensamente.

Acordei a sorrir, quase escutando o som dos espanta-espíritos...

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