"Poesias Caóticas"

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I - O Mundo: O Taxista

Uma besta com um contador andante. Critica algo no meu estilo, nas minhas botas, e eu vejo-lhe o cocó nos olhos, nos dedos, a língua sedenta de sangue ingénuo e novo. Vejo sangue antigo. Vejo o sofrimento estampado num círculo em roda de um dedo. Apetece-me pôr-lhe um fim, detesto-o por aquilo que vejo nele. Não ponho. Ponho em vez disso uma máscara de ingenuidade que não me viu, dentro dos possíveis, e ele sente-se desconfortável, porque percebe a diferença entre aquilo que vê e aquilo que ouve. De repente, sente necessidade de se desculpar de uma forma muito específica que só as maiores bestas sabem fazer. Eu sorrio. Estou a ganhar-lhe. O meu corpo confunde-o. Despedimo-nos como amigos, depois de ele nervosamente se socorrer ao troco. Sigo o meu caminho, um serviço feito, e permaneço independente. E o taxista dispersa-se nos pensamentos acerca de mim, desconhecida, pêga, beleza, oráculo, deseja-me, e questiona-se, permanecendo com uma memória confusa, que o fará interrogar-se durante algum tempo da sua insignificante vida. (E pequena não é de tamanho, é de feitos e de intenções…)


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