A educação nos Maias

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Para Eça, a educação é fundamental para compreender a formação do carácter da personagem. Isto perspectiva não só o contexto naturalista como também um certa abordagem científica n’Os Maias (através da acção da hereditariedade e da influência do meio social sobre o indivíduo). A tese fundamental seria: “o homem é o resultado directo da sua hereditariedade e da sua educação”. Explicitava-se assim a causa da crise social, política e cultural (já para não mencionar económica) por que Portugal passava. Era notório para Eça um quadro geral de decadência no país – isso era provocado pela má educação dos cidadãos (pois a educação tradicional estava claramente desadequada.)
A educação constituía a base da sociedade: era um factor de humanização, de socialização, de autonomia, que produzia ou reproduzia modelos políticos e sociais (estes propunham um sistema de valores e princípios).
N’Os Maias podemos observar o confronto entre duas concepções de educação (uma delas a tradicional portuguesa e outra a concepção “típica de um estrangeirado” – que tomava a educação inglesa como modelo).
Pedro da Maia e Eusebiozinho representam a educação tradicional e conservadora portuguesa, enquanto que Carlos da Maia representa a educação inglesa.
Uma das senhoras do círculo dos Gouvarinhos (“não havia verdadeiramente senão uma coisa digna de se estudar, eram as línguas” pois tudo o resto “eram coisas inúteis da sociedade”) e o Conde de Gouvarinho (manifestava-se contra a ginástica nos colégios: [perguntando a Torres Valente] “se, na sua ideia, os nossos filhos, os herdeiros das nossas casas, estavam destinados para palhaços!...”)assumem-se como defensores da educação portuguesa. Também Vilaça e o Abade Custódio defendiam a educação tradicionalista.
O pedagogo de Carlos da Maia (ou da Educação Inglesa) era especializado e pago, ao passo que o pedagogo de Eusebiozinho e de Pedro da Maia era um clérigo. Carlos da Maia tinha uma educação em que o conhecimento prático era mais valorizado, (tinha mais contacto com a natureza e exercitava-se fisicamente, ao ar livre); ao passo que a educação de Eusebiozinho tinha uma base mais teórica: Eusebiozinho permanecia em casa “nas saias da titi” e tinha uma saúde débil.
Carlos da Maia aprendia o Inglês (uma língua viva), ao passo que Eusebiozinho aprendia o Latim (língua morta); Carlos da Maia era dado a brincadeiras travessas, Eusebiozinho afogava-se no contacto com livros velhos. Carlos da Maia era sujeito a um grande rigor e a uma grande disciplina, enquanto Eusebiozinho era exageradamente protegido pela mãe e por familiares. A educação de Carlos da Maia valorizava a criatividade e o sentido crítico, enquanto a educação de Eusebiozinho valorizava a memorização (e o resultado indirecto disso – a consequente anulação da personalidade). Eusebiozinho era indirectamente ensinado a submeter-se às suas inclinações, enquanto Carlos da Maia submetia a sua vontade ao dever (através das regras rigorosas a que estava sujeito). A educação de Carlos da Maia desprezava os ensinamentos da cartilha, enquanto os ensinamentos da Cartilha eram fundamentais na educação de Eusebiozinho.
A moral do catecismo (concepção punitiva do pecado) englobava também grande parte da formação do Eusebiozinho. A educação de Eusebiozinho deformou a vontade própria deste e arrastou-o para a decadência física e psicológica – tornou-o molengão, tristonho, arrastou-o para um casamento infeliz. Eusebiozinho acabar por tirar um bacharelato em direito.
E Carlos? A valorização do conhecimento teórico suscitou em Carlos o método experimental (o que mais tarde o levou a formar-se em medicina).
A educação à Inglesa suscitou nele o amor à virtude, o cultivo da saúde, da força – fortalecendo o corpo e o espírito.
Adquiriu valores de trabalho, elaborou projectos de investigação, empenhou-se na vida literária, cultural e cívica.
Porém, acabou por ocupar o seu tempo em actividades ociosas, todos os seus projectos de trabalho útil fracassaram, e desenvolveu paixões românticas adúlteras ou incestuosas.
Naturalmente, isto não derivou da sua educação mas sim da sua hereditariedade (a mãe, dada à boémia e ao ócio, submetida a paixões condenáveis; a fraqueza psicológica do pai e da avó para lutar contra as adversidades da vida) e do contacto com a sociedade em que Carlos da Maia se encontrava inserido. Ou seja; a falta de motivação no meio e o estatuto económico que não lhe exigia qualquer esforço.


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