Pensamentos vazios e Sonhos cómicos: mente sempre desperta

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O que define um pensamento vazio? O seu esquecimento progressivo e definitivo num dado período de tempo? Posso então afirmar com certeza que 99% dos meus pensamentos são completamente vazios. São, aliás, como sete ou oito fios que ocorrem em simultâneo e se dissipam no momento seguinte. Chego a desconfiar duma certa creatividade, mas apercebo-me que tal não passa duma crença: o facto é que esses sete ou oito fios, são pensamentos, ou origens de pensamentos, vazios. Lamento-o, parte do meu ego desvanece-se nesta inércia de expelir esta massa constante e infinita de pensamentos muito bonitos (no meu entender), mas inúteis. Deixo até escapar algumas metafóras, construídas da escolha aleatória de um fio premiado. Isto ocorre-me possivelmente nos momentos mais apropriados: na sanita (muitas vezes ocorre-me na sanita); na sala de aula quando me estou a tentar concentrar em me concentrar em algo que verdadeiramente não me quero concentrar; ao observar o aborrecimento comum, torrejano, perdão, devo considerá-lo maioritariamente global, dos comportamentos humanos convencionais; ao ler a cara de um desconhecido, ou simplesmente a tentar. Até a ler, por vezes, me ocorre. A ver filmes. Nunca pára.

Se aquilo que estou a ver ou experienciar está de alguma forma relacionado com arte, surgem-me, em vez de fios de pensamento, um aglomerado de música, imagem, som, e palavras. Iniciativas formuladas no final do pensamento (isto ocorre em menos de um minuto). Surpreendo-me sempre com toda esta complexidade, com estações, dias, noites, solsisticios, mudanças de hora, etc.

É frequente ter sonhos que mais se parecem com filmes dada a sua diversidade de elementos e complexidade da história. Aquele que me perturba mais é o do apocalipse. Geralmente costuma assemelhar-se mais a um filme de acção, onde sou obrigada a pilotar aeronaves e a lutar sobre uma pilha de latas de tomate em lata contra os ET's, que vieram exterminar a raça humana. Mas às vezes surge como um filme de terror, onde simplesmente toda e qualquer acção é inútil. O último apocalipse que sonhei, envolvia a expansão infinita de toda a massa na terra, todas a matéria, seres vivos e humanos também, estava simplesmente a aumentar de proporções a cada segundo, até chegar ao ponto onde o oxigénio acabava. Quando estavamos mesmo a respirar de joelhos, prestes a sermos esmagados por uma baleia azul, começámos a "esvaziar". E puff, acordei.

Mas não sonho só filmes de terror, não nos equivoquemos. Também sonho comédias.

Ontem sonhei com a caríssima Manuela Ferreira Leite (tenho suores frios só de pensar que esse homem tem boas possibilidades, considerando o bom espírito nacional, de ganhar as eleições). Até achei uma certa piada muito mordaz ao facto de essa comédia metafórica ter emergido do meu inconsciente.

A história começou num acampamento com amigos, antes de um concerto. Junto de nós passa um enorme grupo de meninos vestidos de amarelo, possivel ou aparentemente dos escuteiros ou qualquer campo de férias. Eles distribuem-nos um boné e um panfleto, que publicitavam qualquer coisa indistinta. Começo a ler o panfleto, mas o menino que mo distribuiu, aproxima-se de mim outra vez e pede-me, muito suavemente, como a medo da minha reacção, que lhe devolvesse o chapéu e o panfleto.

- Então mas olha que os meus piolhos já estão no boné. Isso não tem jeito nenhum. Vocês estão a dar isto.

- Eu sei, mas era só para veres - (de mansinho) - eu tenho que entregar isso.

(Já irada)- Ok, toma lá esta merda. Onde é que está a senhora ou o senhor que estão a tomar conta de vocês?

E ele aponta-me, nem mais nem menos, a senhora Manuela Ferreira Leite! A príncipio não me apercebi que era ela, mas quando vi quem era, ri-me, aproximei-me dela -ou dele [ela/ele seguia em fila indiana no meio dos meninos de amarelo, para uma casa que devia ser o posto de comando ou assim] (que para fiquem com a ideia estava maquilhada e vestida como na grande entrevista na 1 na semana passada, salvo erro. O cor de rosa do fato, aquele batonzinho... A tentar superar um travesti...) e perguntei-lhe se julgava que ainda estávamos no tempo em que era ministra das finanças. Ah e adivinhem lá o que ela me respondeu! NADA! Simplesmente olhou-me com aquela tentativa de sorriso cínico e não me respondeu, continuou a andar, e entrou lá para o posto de comando. Entretanto uma rapariguinha que se atrasou ficou a comentar comigo que de facto era uma estupidez eles pedirem de volta o panfleto e o boné. A manela saiu lá daquilo, e gritou-lhe que parasse de falar comigo e entrasse, como todos os outros, coisa que a rapariga fez prontamente. E eu, gritei-lhe de resposta:

- Pois, a mim não me pode fazer nada, pois não?

E assim acabou o meu sonho comédia política. O meu insconciente recusa-se, portanto, a sonhar parvoíces comuns como voar, e urinar. Pelos vistos as minhas preocupações inconscientes relacionam-se com o fim do mundo (também me preocupa conscientemente) e com a política.

Se quiserem usar algum dos meus sonhos para realizar um filme, é só contactarem-me. Vendo direitos de autor a preço bastante razoável.

1 comments:

Anonymous said...

Se arranjasses uma gaveta onde colocasses todos esses fios, talvez um dia, talvez, poderias agarrar neles e tornalos reais!

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